19 novembro 2014

Bobby







Intenção admirável que infelizmente não se concretiza num projecto sólido ou verdadeiramente emocionante.

Dia: 4 de Junho de 1968. Local: Ambassador Hotel, onde Robert F. Kennedy discursará para a campanha presidencial. Objectivo: ao longo das horas que antecedem o seu assassinato, mostrar como os ideais de Kennedy marcaram e influenciaram a vida de várias personagens. O problema é que estas pouco mais são que estereótipos da época, isto é, reconhecemos as suas causas/lutas mas no fundo não somos capazes de estabelecer uma nítida relação emocional com elas, excepção talvez para as personagens de Sharon Stone e de Anthony Hopkins. Para além disso, nem sempre é evidente o tal impacto de RFK nas suas vidas: que dizer, por exemplo, do casal interpretado por Demi Moore e Emilio Estevez? Ou seja, para mim, este formato narrativo não funcionou, não só pelo excesso de personagens mas principalmente pela incapacidade de estas demonstrarem o efeito da “mística” de Kennedy, digamos assim.

É que ela, essa “mística”, até está presente, mas não através destas personagens: antes pela voz do próprio Kennedy, na incorporação, ao longo do filme, de alguns dos seus discursos e declarações mais significativos e inspiradores. Sentimo-nos, desta forma, em contagem decrescente. E quando o momento chega, estamos realmente perante a melhor sequência do filme. Emotiva, contundente, demolidora. Neste caso, não apenas pela inclusão perfeita do discurso de RFK face ao assassinato de Martin Luther King, mas porque finalmente já nos é permitido sentir a dor e o desespero das personagens face ao sucedido!

Desta forma, e apesar do seu fulgor final, “Bobby” falha claramente no seu cerne: o de nos conduzir, através (e unicamente) das acções desta amálgama de personagens, aos sentimentos de esperança e mudança que Bobby Kennedy inspirava nesses finais conturbados dos sixties.


"Surely, we can learn, at least, to look at those around us 
as fellow men, and surely we can begin to work 
a little harder to bind up the wounds among us 
and to become in our own hearts brothers 
and countrymen once again."

excerto final do discurso "The Mindless Menace of Violence", 
proferido por Robert Kennedy a 5 de Junho de 1968



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