08 agosto 2011

Harry Potter and The Deathly Hallows, Part 2





A temerosa escuridão reina. São tempos incertos e sombrios estes. Os seus longos dedos aracnídeos conspurcam o alvo mármore. Desafiando a tempestade, o seu fiel servidor medita. Inscritas na rocha, simples palavras honram a sua memória. Dobby, o Elfo Livre, não mais se levantará. Nem mais exclamará alegremente o nome de Harry Potter. Confuso, magoado, o Rapaz Que Sobreviveu enfrenta novamente uma temível decisão. Horcruxes ou Talismãs?


A demanda continua, agora em ritmo mais fluido e intenso. Afinal, o último capítulo é preenchido na sua maioria pela excitante e dolorosa batalha final em Hogwarts. O filme é eficaz na construção deste portentoso episódio. Vive-se uma atmosfera dramática e assustadora; perda e desespero quase subjugam a coragem e amizade de Harry, Ron e Hermione e dos seus companheiros. Apesar dos louváveis momentos de humor e romance, é no seu lado mais negro e profundo que o filme nos faz regressar verdadeiramente às páginas lidas com sofreguidão e carinho. O reencontro na Floresta Proibida é possivelmente um dos melhores exemplos. Não me coíbo em confessar que as lágrimas foram minhas companheiras na revelação da “Pedra da Ressurreição”. Ou na viagem lúgubre às memórias de Severus Snape, numa interpretação fabulosa de Alan Rickman.


Tal como no capítulo anterior, a fotografia de Eduardo Serra é uma poderosa aliada. Sombria, repressiva, pesada, torna irreconhecível a outrora segura e acolhedora Hogwarts. Transforma-nos em familiares estranhos. Tal como a eles. Tudo mudou…e já há muito. Que mais aliás se esconde nas entrelinhas deste universo de feitiços e batalhas, por entre fotografias móveis e sapos de chocolate, senão as dificuldades e responsabilidades da maturidade, os sacrifícios e recompensas da honra, da amizade e do amor, os desafios do crescer? Foram sete anos em Hogwarts, dez anos para nós, expectantes Muggles…Sonhámos em poder também embarcar na plataforma nove e três quartos, vivemos todas aventuras e desventuras, sorrimos e sofremos com todas aquelas complexas e diferentes personagens! E agora terei que fazer notar o certeiro casting…é incrível como aqueles três adoráveis miúdos evoluíram, numa esplêndida transição da inocência para a maturidade…Não imaginaria outro Harry ou Ron ou Hermione! Ou outro Snape ou Sirius ou Bellatrix ou Dumbledore ou Voldemort, para citar os mais proeminentes de entre os consagrados actores!


Infelizmente, não sou capaz de considerar esta conclusão como perfeita! Como fervorosa leitora, admito que possa estar muito enraizada aos livros, mas três pontos principais merecem o meu reparo. Dois prendem-se ainda com os capítulos anteriores: continuo a achar que por vezes a personagem de Snape foi subaproveitada e que o conflito Horcruxes versus Talismãs de Harry foi pobremente desenvolvido. No livro, esse conflito interior era muito mais que uma mera escolha de estratégia; era o reflexo da descrença e dor de Harry para com uma desconhecida natureza, malévola e calculista, que desvirtuava a figura de Dumbledore. O filme, na minha opinião, nem sempre foi bem sucedido nessa demonstração. Por último, e como me custam estas palavras, foi com desagrado que assisti ao confronto final entre Harry e Voldemort. Mas que raio foi aquilo? O poder de tal momento passava exactamente pela sua simplicidade. Era em excitação e permanente descoberta que lia as cuidadosas mas desafiantes palavras, num discurso provocador que, em suspenso, lançava a sua derradeira e fatal revelação! Talvez achassem que isso não funcionaria no grande ecrã, mas a mudança para aquele cenário de pirotecnia e explosões foi uma profunda desilusão!

“It all ends”, assim se anunciava o capítulo final. Um misto de ansiedade e nostalgia instalava-se à medida que a espera diminuía. Afinal, cresci a ler esta saga. A desejar ir para Hogwarts, descobrir os seus segredos, a deslumbrar-me com os seus feitiços e mitologia, a emocionar-me e divertir-me com as suas personagens, a sofrer com as suas perdas…numa relação, se me permitem tal ousadia, difícil de transpor em palavras! E se o fim não foi perfeito, foi sem dúvida magnífico e assombroso, e ultimamente merecedor da obra de J.K. Rowling! Inevitável que fosse a despedida, o Rapaz Que Sobreviveu, símbolo da coragem, do amor e da tenacidade, manter-se-á para sempre no meu imaginário e coração!


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