30 junho 2013

The Great Gatsby






Luzes. Álcool. Música. Vestidos curtos e brilhantes. Foxtrot e charleston. Os loucos anos 20 irrompem pelo ecrã à velocidade vertiginosa com que foram vividos, moldados pela batida anacrónica e ecléctica desses géneros que actualmente nos animam. É com fascínio que lhes damos as boas vindas. De que outra forma poderia ser se os vemos afinal pelos olhos de Nick Carraway, ingénuo novato neste admirável mundo novo? 





Admirável mundo novo este que Baz Luhrmann nos apresenta com o seu estilo inconfundível. Mas se em "Moulin Rouge" esse modus operandis se confundia com a história, emprestando-lhe um travo burlesco e barroco, aqui, o excesso é definitivamente excessivo. Porque "The Great Gatsby" é tanto uma tragédia amorosa como a tragédia de uma sociedade, a elevação do amor face à decadência de valores, o despedaçar de um sonho. E por isso pede por silêncio, pede para não ser interrompido quando o momento exige contemplação ou meditação. Pede que não sejamos meros observadores a espreitar do alto, exige-nos uma opinião ou julgamento. 
Daí que também a voz-off de Nick seja (pelo menos para mim) deveras incomodativa, principalmente em alguns momentos finais. Não gosto que me digam o que sentir. Além disso, Tobey Maguire foi um erro crasso de casting: a sua personagem é introspectiva e não inexpressiva! 

É sempre difícil adaptar um livro ao grande ecrã. Comparações são inevitáveis e nem sempre justas. Mas se "The Great Gatsby" se perde por vezes na imensidão do seu fulgor, possui igualmente um trunfo inegável: a interpretação de Leonardo DiCaprio. O seu Gatsby é carisma e desespero, solidão e fé, amor e desgraça. Extraordinário desempenho, como se ressuscitado pelo próprio Fitzgerald! 
Pena é que a sua musa não lhe faça jus: sinceramente, achei a química entre DiCaprio e Carey Mulligan quase inexistente e esta pouco mais foi que uma “bela tonta”, o que se aproxima mas contudo é insuficiente para definir Daisy. 





O Great Gatsby de Baz Luhrmann não é isento de pecados. Nem sempre consegue transmitir com elegância e pujança a essência da obra original. Contudo, também não a desonra. Oferece-nos momentos de excelência, não só visual como narrativa, e, repito, DiCaprio é absolutamente portentoso.





4 comentários:

  1. Nem mais, totalmente de acordo. Se por um lado temos um desperdício de narrativa com toda esta megalomania visual e sonora, por outro, temos o habitual Luhrmann, sempre com o seu cunho de irreverente, único e destacável no panorama actual cinematográfico. Bom texto.

    Cumprimentos,
    Jorge Teixeira
    Caminho Largo

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    1. Obrigado Jorge! Sim o estilo de luhrmann é inconfundivel..gostava que se tivesse refreado,pelo menos um pouco..mas ainda assim a obra não sai desvirtuada, muito em parte pela interpretação de DiCaprio,continuo a achar

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  2. Catarina, concordo inteiramente com os erros de casting e com a apreciação do Dicaprio, excelente. não é um mau filme, não desgosto de alguma irreverência visual que é extrema, mas eu diria até mais, é irreal, mas não desgostei disso, dá um sentido de utopia ao filme e de facto é um filme que une a tragédia amorosa à tragédia de um tempo. mas não deixa no entanto de cair em alguns clichés baratos e a opção por preencher a grande festa na casa de Gatsby com os tais géneros sonoros que actualmente nos animam parece-me ter sido uma escolha sem grande sentido dado o contexto da época...

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    1. Eu também não desgostei dessa irreverência visual, gosto dessa tua ideia de utopia..o problema é que acho que o filme se perdeu nesse campo e também por isso não tenha sido capaz de associar eficazmente "a tragédia amorosa à tragédia de um tempo"...por acaso até gostei da banda sonora anacrónica, acho que também contribuiu para esse sentimento de utopia e excesso

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