06 julho 2011

The Tree of Life



"Where were you when I laid the foundations of the earth? When the morning stars sang together, and all the sons of God shouted for joy?" (Job:38)




Subitamente senti-me como o átomo do Ega, deambulando pelas memórias da Criação, desde o cosmos desconhecido até ao pulsar do oceano, em deslumbrante viagem pela intricada rede da vida.

Vida. Morte. Fé. A Santíssima Trindade. Oniricamente venerada. Por um doce olhar materno, pelo sopro do vento na quietude de um jardim, por uma reconfortante gargalhada de criança, em incessante e casta poesia. Na luz omnipresente que nos perturba e encanta. Na música que, delicada e possante, nos eleva à meditação.




E assim confesso que me senti perdida na vastidão de Malick. Não negando a harmonia da imagem, não conseguia criar empatia com a história, essa que ainda me parecia tão indefinida e remota.

E repentinamente, o tormento interior de Jack toma forma. A graça e a natureza em dilacerante confronto, a incerteza e raiva questionando a fé. Memórias de uma infância retalhada, contraditórias recordações de um passado entre a alegria e o temor, persistindo ininterruptamente na cura de uma reconciliação. O jovem Hunter McCracken é sublime na demonstração da dúvida e rebeldia que a sua personagem enfrenta. Jessica Chastain, etérea alma em sobressalto. Ambos colidindo com a insatisfação e tirania paternas, um subjugado Brad Pitt.




Uma gota de água cai, uma célula origina outras, alguém reza, o sol liberta partículas em explosão, um homem tomba em convulsões, uma bola é lançada em brincadeiras de irmãos, com devoção um pai afaga o pé do seu recém-nascido, uma mãe conta histórias aos seus filhos, o universo contrai e expande em mistério. A vida progride na sua efemeridade. Uma praia surge próxima, surreal, enigmática.

Saí confusa. E encantada. E aturdida. Transcendida pelo belo e divino desta Árvore. Contudo ligeiramente desiludida. Que história encerra esta majestosa experiência sensorial?

8 comentários:

  1. É mesmo uma obra transcendal. Mas muito complicada de falar quando só se vê uma vez...

    Abraço
    Frank and Hall's Stuff

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  2. Bela crítica :).Concordo com o Bruno. É sim bastante complexa e introspectiva; talvez daqui a uns anos seja melhor compreendida e aprovada e envelheça bem como tantos filmes de culto que conhecemos.

    Cumprimentos,

    http://cinemaschallenge.blogspot.com/

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  3. Obrigado :)

    Andreia e Bruno, concordo com vocês. Até considero o meu texto mais uma espécie de desabafo do que uma critica...é um pouco a minha interpretação e o que senti ao ver o filme, assim em bruto. De facto é uma obra bastante dificil de falar e exteriorizar...e sim, Andreia, talvez envelheça bem ;) mas por outro lado acho que é daqueles filmes que cada pessoa encara e sente de maneira diferente!

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  4. Sempre que falo deste filme sinto-me demasiado repetitivo tenho mantido o mesmo discurso lol.


    Acho que tem momentos grandiosos de cinema, é estéticamente imaculado e a banda sonora sublime. Mas não me conseguiu transcender apesar de ser um filme que o pretende fazer.

    Mas saí do cinema a digeri-lo na certeza de que precisa de uma 2º visualização. E o tempo ditará onde a obra se irá posicionar na história do cinema, estou curioso em ver como envelhecerá. Apostando hoje e com uma visualização não acho que vá ser uma obra-prima, já outros conseguiram fazer melhor. Tree of Life é bom mas não é um 2001 na minha opinião.

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  5. Loot, quando disse "transcendida" referia-me mais à parte estética do filme...tem momentos que me deixaram completamente encantada, a nível sensorial. Contudo, acho que peca por não desenvolver um argumento consistente, eu pelo menos não lhe encontro o significado que tantos exprimiram como sendo uma obra-prima...talvez com uma 2ºvisualização o entenda de forma diferente

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  6. Sim sim eu é que já tneho as frases formatadas e usei essa palavra. Como disse aquilo tem momentos grandiosos :)

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