03 maio 2017

Logan


A crítica que se segue contém spoilers...




Now that´s a fucking Wolwerine movie! A raw and ferocious one! 


E são apenas duas as vezes em que o chamam assim…Uma de forma sarcástica e desdenhosa, como se esse já não vivesse ali, naquele corpo envelhecido; a outra como um eco enferrujado de um passado que já não volta, mas que o atormenta incansavelmente! 



Logan é o filme que a personagem e Hugh Jackman mereciam, há já muito, após a mísera introdução e o desvario japonês. Logan é, finalmente, o filme que assume em pleno a ferocidade e visceralidade intrínsecas da personagem, fazendo-o de um modo que tem tanto de natural como de provocador! Mas, transversalmente, Logan é também o filme que debate mais seriamente a questão da humanidade deste anti-herói: um homem perseguido pelos demónios do seu passado, pelos fantasmas dos seus mortos, pela inevitabilidade ou contrariedade das suas características, pelo peso dos seus actos e escolhas. Por isso, tanto temos a fúria das suas garras de Adamantium trespassando e eviscerando como nunca antes tínhamos visto, como assistimos à sua lenta degradação e ao crescendo de tormento e desespero! E tenho a dizer, Hugh Jackman é imenso em ambos! 

Da fragilidade à impetuosidade, do corpo velho ao sangue novo…bem, como falar da explosiva e animalesca Laura, força bruta e imparável, quase assustadora e raivosa brutalidade em corpo de menina? Se aquela sua sequência de revelação não é verdadeiramente atordoante, não sei o que possa ser! E quão espectacular é o confronto entre as suas tenacidades: Laura a lutar desesperadamente pela sua sobrevivência…e Logan a desistir da sua…que grande filme! Só faço um desgostoso reparo: não é nada mas nada justo termos que assistir novamente à morte do Professor X…não é simplesmente!




E chegando ao fim, Logan despede-se de nota severamente amarga, mas com uma pujança há muito merecida (excelente realização e argumento de James Mangold) e que é, quer visual quer narrativamente, atordoante e imensa e acima de satisfatória!


06 março 2017

Fantas Express: do espírito de emancipação à melancolia em português


TUOS 




Há um cântico que nos percorre com a força visceral daquilo que é anterior ao próprio tempo e história. Espíritos espreitam da escuridão, espíritos que clamam e iludem, espíritos que pertencem à floresta, espíritos que comandam o passado, o presente e o futuro deste clã matriarcal. Senti Tuos de uma forma muito peculiar, senti as suas histórias a estontearem-me a mente, senti a sua melodia a encher-me o coração. 

Tuos, emotivo e extraordinário conto de emancipação feminina, no qual a brutalidade do concreto e a peculiaridade do místico se cruzam, no qual o sobrenatural e a realidade se esfumam de mãos dadas, de modo astuto, subtil e memorável! Tuos, prodigiosa fábula, indelével retrato! 



A FLORESTA DAS ALMAS PERDIDAS




No fim, sente-se incompletude. Olhamos para trás e, face a uma narrativa tão singular e a uma atmosfera inicial rica em suspense, é frustrante detectarmos esse potencial perdido. Também não ajudou o realizador definir o filme como pertencente ao género terror, não é de forma alguma o caso. 

Os diálogos incisivos, juntamente com o carismático trabalho de Daniela Love e Jorge Mota, e a evocativa fotografia a preto e branco são as forças maiores que contribuem quer para a acutilante beleza do filme, quer para o suspense incomodativo que o atravessa até ao arrasador twist. 
Contudo, a partir desse momento, a extravagância quebra-se, a dispersão instala-se, o feitiço desvirtua-se. Tal como as suas almas, também o filme se perdeu em si próprio.


03 março 2017

Fantas Express: da comédia nonsense israelita à mais aborrecida invasão alienígena de sempre!



OMG I’m a Robot! 



Robots. São frios, mecânicos, complexos automatizados guiados apenas por razão e lógica! E depois temos Danny, doce e hiper sensível, desconhecida maldição emocional que lhe atormenta a vida! E é dado assim o pontapé de saída para esta comédia descomprometida, sarcástica e ligeiramente non-sense! Diálogos divertidos, situações caricatas, one-liners algo parvas, lá esta, muito non-sense à mistura numa produção que, é importante dizer, tem por base questões políticas e morais: é impossível não associar de imediato a razão da criação dos robots com o próprio conflito israelo-palestiano! 



The Darkest Dawn



O que é que eu posso dizer sobre The Darkest Dawn? Serei directa: não gostei do filme. É aborrecido, é uma sucessão de situações cliché e maçadoras que não cativam nem originam outra reacção senão um revirar de olhos e um bocejo!


02 março 2017

Fantas Express: Vingança, Salvação, Reconquista



You’re Gonna Die Tonight 

Curta e mal sucedida incursão no género slasher, You’re Gonna Die Tonight é terrivelmente trapalhona e insípida, indigna de registo! 


Paranormal Drive 




Uma viagem assombrada às mãos de um espírito vingativo é o mote deste tenso e bem realizado mistério russo! Apesar de sabermos de início quem é a causadora de todos os sobressaltos e sustos, o modo como a narrativa se desenrola é cativante e inquietante, cumprindo exactamente o que promete! De facto, “Hell hath no fury like a woman scorned”, aposto que existe um equivalente russo e se não, eles que aprendam! Paranormal Drive, excitante e perturbador! 



El Ataud Blanco 




Até que ponto vai uma mãe para salvar os seus filhos, que limites está disposta a ultrapassar, que pecados está pronta a cometer? 
Assim se apresenta El Ataud Blanco, respondendo de forma descomprometida e desproporcionada e com laivos quer cómicos quer até um pouco foleiros à sua vincada premissa! 



A Ilha dos Cães 



Da Angola colonial à Angola imperialista, de prisão para rebeldes e revolucionários a último reduto de pescadores ameaçados pela exclusividade do “resort”, a ilha sempre se impôs como fortaleza dominada pelo misticismo, comandada pelas matilhas que tão notória e agressivamente a defendem. A Ilha dos Cães, surpreendente e capaz conto sobrenatural, foi especialmente hábil em aliar uma narrativa curiosa a uma atmosfera igualmente mística, resultando num filme cativante e satisfatório, que prende agradavelmente a atenção do espectador!


01 março 2017

Fantas Express: Land of Light e The Age of Shadows



Da infância estilhaçada à provação de um ideal maior… 



 LAND OF LIGHT 




Testemunho cru e avassalador, Land of Light paralisa-nos com o seu desarmante contraste entre inocência e maturidade, violência e brincadeiras, sonho e realidade, no confronto de uma infância devastada pela guerra na Síria. Essa guerra, como todas as outras, em que as crianças são o elo mais fraco, forçadas a sobreviver sem infância, forçadas a sobreviver apenas. Como quando assistimos ao momento em que, face à visão de uma família assassinada num ataque, a reacção imediata seja rebuscar pela casa por alimentos e objectos úteis. Ou ao desembaraço com que pegam numa arma. Ou quando, na cena final do documentário, ouvimos os seus argumentos sobre como dirigir esta narrativa. 
Por entre lágrimas e genuínos sorrisos, por entre tiros e canções, por entre destruição e esperança, Land of Light apresenta-se como um portentoso murro no estômago, arrastando-nos para uma realidade que não sendo desconhecida, obviamente, é muitas vezes comodamente esquecida por entre os míseros turbilhões do nosso plácido quotidiano. 



THE AGE OF SHADOWS 




Por entre sombras, uma figura ágil escapa-se da perseguição, de telhado em telhado, resistindo até não mais, até ao seu fim sacrificado. Por entre sombras, ultima-se uma revolução, pela independência, pela liberdade, por uma causa maior. Por entre sombras, os carrascos atarefam-se, é urgente silenciar tal ideal. Por entre sombras, criam-se alianças, desfazem-se acordos, sabotam-se conquistas, conquistam-se sucessos; quando a escuridão sufocante parecia total, mantém-se teimosamente viva a chama desse ideal maior. 

The Age of Shadows, para além de competente capítulo histórico, é acima de tudo exímio na construção de uma extraordinária atmosfera de suspense e ambiguidade que se prolonga por todos os seus 140 minutos. Traça uma aliciante e misteriosa narrativa, na qual questiona habilmente as noções de honra e lealdade das suas personagens, mantendo o espectador sempre em suspenso. Para além disso, apresenta-nos brilhantes interpretações de Kang-ho Song e Yoo Gong e deslumbra-nos com uma grandiosa cinematografia. 
Dono de uma intensidade vincada e arrebatadora, The Age of Shadows firma-se como um singular conto de resistência e integridade, na luta definidora por um ideal maior.


19 fevereiro 2017

Silence






Avassalador, difícil de digerir, Silence é um filme que nos esmaga pela complexidade inerente do seu tema e, muito habilmente, pelo modo provocador como Scorcese o dirige! 

Provocador pela multiplicidade de questões que levanta. Provocador pela sagacidade com que confronta duas visões gravemente distintas mas no seu âmago similarmente pecadoras e de actuações violentas e desumanas. Provocador pela forma como coloca o espectador em comunhão, ainda que de díspar magnitude, com a busca e reflexão viscerais das principais personagens. 





Numa vívida e demolidora odisseia movida pela fé e pelo horror, Silence questiona e põe em causa, sem hesitações nem pruridos. Qual o sentido da evangelização, esse demónio colonizador que tanta crueldade e morte causou? Qual o sentido da resposta do Japão, esse império feudal que se protegeu à custa de tortura e perseguição? Qual o sentido de tudo isso, quando afinal a fé se revela como universal na sua essência, apenas diferente nas suas manifestações? Um terço. Uma cruz. A beleza da Natureza. Uma estátua de Buda. Meditação ou confissão. Monólogo. Silêncio. 


I pray but I am lost. Am I just praying to silence?


06 fevereiro 2017

Assassin's Creed


O conceito por detrás deste "Assassin's Creed" era apetecível, não nego. Misturar história e mito, a conquista cristã de Granada com a conquista da Maçã do Éden, deveria originar uma narrativa empolgante, recheada de incríveis momentos de acção!

Contudo, não é isto que o filme nos oferece...A maioria das sequências são apenas medianas e a narrativa acaba por ser um emaranhado de situações pouco coesas e sem grande fôlego!

Por último, apesar das suas qualidades, nem Fassbender nem Cotillard injectam chama suficiente ao filme, que se revela ultimamente pouco entusiasmante!

31 janeiro 2017

Rogue One


Sentimo-nos em casa. É, sem dúvida, um regresso reconfortante ao espírito dos seus "sucessores", definitivamente melhor conseguido que o episódio VII.

E, incrivelmente, Rogue One, é o filme mais díspar de toda a saga! O espírito de aventura e fantasia, ainda que bem presentes, são relegados para segundo plano, dando-se primazia a uma envolvência mais dramática, constante e necessária ao longo de toda a narrativa!
"Revoltas são construídas na esperança" e, acrescento, no sacrifício, e é esta viagem que nos é apresentada de forma consistente, emotiva e arrebatadora!

Assente num bom argumento e numa protagonista forte, Rogue One oferece-nos uma história convicente e empolgante, que nos faz sentir próximos das suas personagens e destinos de modo agradavelmente genuíno!

19 janeiro 2017

Passengers



(A seguinte crítica contém spoilers...)


Banalidade a bordo...





Que desencanto, que desilusão! Com uma premissa surpreendentemente acutilante e controversa, o filme é destruído pela sua própria preguiça em desenvolver a narrativa para além de uma básica e pálida história de amor! Depois, não se decide quanto ao que quer ser: romance, acção/catástrofe ou drama?! É que não consegue ser nenhum de forma convincente!

O grande trunfo do filme fica a pairar, sem concretização, apenas um breve comentário: "These are not questions for a robot, Jim!".
Fica assim apresentado o confronto ético que poderia distinguir o filme: a ânsia de companhia, de uma ligação, de contacto humano que quase enlouquece Jim, leva-o, num acto maior de egoísmo, a despertar a "sua" Bela Adormecida e esperar pelo conto de fadas! Que acontece, ainda que efémero, despedaçado por uma inconfidência andróide!
E aqui o filme espalha-se ainda mais ao comprido! Desperdiça completamente o potencial da sua narrativa, ao desvalorizar o conflito moral e ético da decisão de Jim pela companhia de salvamento da nave que, numa penada sem sentido, termina igualmente na reconciliação dos amantes!

E bem, voltamos a ter conto de fadas! O problema é que até o mais simples conto de fadas possui, em menor ou maior escala, uma lição de moral a retirar..."Passengers", por sua vez, navega apenas num vazio banal, preguiçoso e até perverso, simplesmente insignificante e deplorável!


09 janeiro 2017

Amor Impossível



Por mais de uma vez, a protagonista faz uso de "O Monte dos Vendavais": relê-o após uma briga com o namorado, defende-o apaixonadamente na apresentação de um trabalho, incorpora-o profusamente quando declama, de forma visceral, "Eu sou Heathcliff"! E por mais de uma vez, recordei o quanto odiei "O Monte dos Vendavais" e a sua narrativa de "amor" obsessiva e abusiva! Aquilo nunca foi amor, somente uma relação destrutiva, e também destrutiva é a relação que "Amor Impossível" nos apresenta.






É a ilusão do amor, o amor pelo amor, que Cristina persegue tão vividamente? E o que move Tiago senão o sentimento de posse por si só, o ter e possuir alguém? E quando tudo se complica, quando tudo desaba, o que acontece?

A caracterização deste caótico relacionamento é sólido e cativante; Victoria Guerra e José Mata foram capazes da intensidade que tal retrato pedia, numa narrativa que se foi afirmando como consistente e interessante! O meu grande problema com o filme foi sem dúvida a tentativa de paralelismo entre o casal protagonista e o casal de inspectores da PJ. Para além de me escapar o motivo desta opção, nunca achei que fosse bem conseguida ou até minimamente interessante, acabando apenas por prolongar em demasia a duração do filme e distrair-nos da história principal (e, por outro lado, desacreditar ligeiramente o trabalho de investigação...)!





"Amor Impossível" é, neste aspecto, um filme um pouco desequilibrado. Contudo, desenvolve de forma capaz e séria a sua premissa principal, numa narrativa fervorosa que nos consegue prender, ainda que não absolutamente, no seu sucessivo acumular destrutivo de paixão e obsessão!