29 fevereiro 2016

Óscares 2016 - Desilusões e Contentamentos





E ainda para mais Mad Max: Fury Road não é meramente cool! É irreverente, corrosivo, rebelde e inteligente não apenas na sua forma mas no seu conteúdo: por detrás do que pode ser considerado um excesso visual, possui uma mensagem forte de justiça, rebelião e igualdade! E sendo George Miller o seu génio inventivo, para mim a Academia ficou-lhes em grande dívida!





Leonardo DiCaprio  - O seu papel em The Revenant não foi nem de longe o melhor que já fez (podia falar de The Departed, de The Wolf of Wall Street, de Django Unchained,...) mas o meu coração de fã ficou muito contente ainda assim (mesmo que me doa Michael Fassbender não ter sido reconhecido, mais uma vez...)!




Alicia Vikander 




Ennio Morricone


26 fevereiro 2016

The Revenant



“On est tous des sauvages.” 





Em « The Revenant », domina o visceral e o agreste! Os elementos, os actos, as pessoas, a Natureza. A luz pertence ao passado, a esperança ao sonho. Tudo sufoca, tudo arrepia. Meros resquícios de bondade que se atrevam a surgir são rapidamente eliminados, sem misericórdia! 

“The Revenant”, sobrevivência movida pela vingança, é sem dúvida visceral na sua execução. A já célebre cena do urso é portentosa e deveras arrepiante, porque é realmente filmada de um modo intenso que nos transporta para o seu âmago: o ruído das garras, os jorros de sangue, o batuque da pata desejosa de esmagar o crânio…Ou a cena inicial do ataque dos índios Ree ao grupo, turbilhão de setas, balas, sangue e gritos. Mas até os momentos mais pausados assumem uma fatalidade perturbadora e sem compaixão. Falo da respiração alterada em sintonia com o movimento das nuvens, da manada de búfalos em debandada na imensidão da neve, da insignificância dos homens face ao jugo da Natureza…desconcertante! 





Para tal, muito contribui a asfixiante cinematografia de Emmanuel Lubezki, de planos belos, vastos e complexos, que esquece a luz em primazia do encoberto e do saturado. Em termos narrativos, a vingança é o motor e o destino do desejo de sobrevivência do protagonista Glass. Nada de propriamente novo, não fosse o extremismo que esta sobrevivência assume: como referi anteriormente, tudo é visceral e agreste e nem homens nem Natureza mostram compaixão ou misericórdia. E esses momentos insuportáveis e gráficos tanto nos fazem revirar na cadeira como nos compelem a não afastar o olhar, ou o coração, de Glass! 

Glass, composição de Leonardo DiCaprio indubitavelmente marcante e assombrosa pela situação de extremo, de resiliência e desespero que teve que demonstrar! Contudo, é o inquietante Fitzgerald de Tom Hardy que nos persegue até ao fim, esmagando-nos com a mácula da sua crueldade, crueza e impiedade! 





Em “The Revenant”, rendi-me ao jugo de Iñárritu, prodigioso e perturbador, também ele sem compaixão nem misericórdia!


25 fevereiro 2016

Room



Room, o livro, é desconcertante pela forma como abordou um tema de natureza horrível e complexa pelo olhar puro mas sagaz duma criança de 5 anos. "Room", o filme, foi capaz igualmente de o fazer e este é o maior elogio que lhe posso dar!





Embora em menor amplitude, o filme consegue manter a estrutura narrativa a partir do ponto de vista de Jack, originando uma perspectiva muito diferente, descomplexada e surpreendente dos acontecimentos! A narrativa, quer no cativeiro, quer no pós-fuga, tem tanto de sufocante como de comovente! E Brie Larson e Jacob Tremblay são ambos absolutamente arrebatadores no modo como encarnam as suas personagens: Brie Larson ao incorporar a mistura do seu trauma com a força e coragem necessárias para criar e proteger Jack; Jacob Tremblay porque impressiona pelo turbilhão de inocência, vitalidade, força e vitalidade que imprimiu à sua personagem!





"Room" é assim tão angustiante quanto inesperado, pelo misto de crueza e sensibilidade com que aborda esta temática, para além de nos marcar com a garra das interpretações dos seus protagonistas!


24 fevereiro 2016

Brooklyn


Brooklyn, meados dos anos 50. Porto de abrigo para os milhares de emigrantes irlandeses em busca de um futuro melhor. Eilis é uma deles. Esta é a sua história.





"Brooklyn" assenta a sua força na interpretação de Saiorse Ronan, que assume indiscutivelmente o conflito interior da sua personagem, dividida entre dois sítios, à deriva entre dois possíveis futuros. Pena é que a narrativa não desenvolva de modo consistente a sua "viagem". Tudo parece surgir de forma muito linear e fácil, o que inevitavelmente contrasta com a premissa pretendida: a da luta duma emigrante para se impor na sua nova realidade e encontrar e construir um novo lar!

Assim, temos um bom filme, é certo, mas que merecia maior desenvolvimento narrativo e menos nós mal atados! Para recordar, a interpretação intensa e valorosa de Saiorse Ronan!






22 fevereiro 2016

"Retornos, Exílios E Alguns Que Ficaram"







Recebe-nos uma impavidez ríspida e burocrática. Nome, proveniência, duas cruzes no sítio certo, num processo mecânico e agreste. O calor ficou no barco. O conhecido, o familiar ficaram lá longe, na terra em que o céu e as estrelas estão mais próximos e a chuva cheira diferente. 

“Retornos, Exílios E Alguns Que Ficaram” é uma notável reconstrução de um passado intimamente sussurrado e “oficialmente” esquecido. Sabia que o processo de descolonização tinha sido conturbado e até traumático, mas desconhecia até que extensão e confesso que nunca tinha verdadeiramente reflectido sobre a sua natureza e implicações! E esta peça da companhia “Teatro do Vestido” é exímia nesse propósito, através de um cuidado e extenso trabalho de investigação, de uma encenação interventiva e sagaz e de interpretações enérgicas e valorosas! Bravo, Joana Craveiro, André Amálio, Isabelle Coelho, Rosinda Costa!

Porque mais do que contar esta História, faz-nos mergulhar nela de modo emocionante e quase íntimo! Sentimos a força dos testemunhos, a graça e a dor. Vivemos a incerteza e a cadência atemorizada do suor dos últimos dias em Luanda. Dançamos a espontaneidade das festas em Lobito. Arrepiamo-nos com o sufoco do retorno ou do exílio, o abandonar forçado de um presente feliz para um desconhecido inconstante…”E foi isto que me contaram…” A tal não é alheio o “palco”, o Solar do Vinho do Dão, onde a peça encontra uma sublime envolvência e até curiosa familiaridade, visto ter funcionado como uma das extensões do IARN. 

“Retornos, Exílios E Alguns Que Ficaram” não apazigua a memória, antes levanta o véu e faz-nos reflectir e falar sobre um passado próximo e enevoado, quase enterrado, que clama pela reconciliação.


18 fevereiro 2016

The Danish Girl



Mergulhamos num quadro vivo de cores opulentas e saturadas, de ambientes vívidos e sóbrios, de poses e expressões delicadamente pensadas. Numa primeira parte de “The Danish Girl”, tudo gira à volta do quadro, da inspiração, das musas e da concretização, imerso numa beleza inebriante, numa sublime felicidade matrimonial! 
Contudo, lenta e subtilmente, vorazes indícios espreitam pela calada. Um posar generoso, uma sedução ao luar, um provocativo disfarce. Conheçam Lili, momentânea e delicada máscara! Mas nem momentânea, nem máscara… Conheçam Lili, despeçam-se e esqueçam Einar!





 “The Danish Girl” discute com assombrosa frontalidade e sensibilidade o tema da identidade de género e da transexualidade, desde o drama do conflito interior e da própria aceitação, à dificuldade dos próximos e preconceito da sociedade em reconhecer e aceitar! Li algumas críticas em relação à não completa veracidade desta adaptação, que terá sido romantizada e polida…Não sei até que ponto a história poderá ou não ter sido alterada. Contudo, penso que o filme encara estas questões com seriedade e arrojo, com a intenção de nos fazer reflectir sobre um tema que ainda esbarra com tanta discriminação, ignorância, fobia e ostracização! 
Tom Hooper é sagaz ao conduzir a narrativa e a enquadrar os sucessos, as dificuldades e o drama das personagens com a encenação e fotografia do filme. Mas sem a entrega apaixonante dos actores principais, “The Danish Girl” não seria o mesmo! Eddie Redmayne é avassalador na sua transformação, que não incluiu apenas uma transformação física, antes uma completa incorporação de postura, expressões, gestos e voz, a exalar feminilidade! Por sua vez, Alicia Vikander é absolutamente arrebatadora e pungente na forma como encarna a mescla de confusão, repúdio, dor, aceitação e amor! Penso que tanto as suas interpretações como a narrativa são pródigas a mostrar como devia ser natural compreender e aceitar esta realidade! Infelizmente, acrescento, podem ter decorrido já quase 100 anos, mas muitas mentalidades continuam presas e obtusas no tempo… 




“The Danish Girl” é, deste modo, uma composição notável e inspiradora, capaz de abordar o tema da transexualidade sem receios nem complexos!


09 fevereiro 2016

The Hateful Eight


A cena inicial é desconcertante. A cruz flutuante e perturbadora no meio de nada, imersa na alva neve, que dita o tom do filme. Aliada à inquietante banda sonora de Morricone, temos sem dúvida algo digno de antologia!

Tarantino regressa com a sua tão bizarra e louca execução, com os seus longos e eloquentes diálogos e com a sua imensidão de violência e sangue! Mas bem que leva o seu tempo...e confesso que inicialmente me aborreceu um pouco, não lhe encontrava um rumo. Contudo, a partir do momento em que todas as personagens ficam confinadas à Minnie Haberdashery, a dinâmica alterou-se, a narrativa tornou-se mais cativante e o meu entusiasmo renovou-se!

A narrativa pode não ser propriamente original mas é coesa e apelativa. Tal como as personagens, esses oito odiados que nos deixam agarrados ao ecrã, de coração dividido! Destaco Jennifer Jason Leigh, que nos oferece uma personagem visceralmente repulsiva e cómica!

"The Hateful Eight" não é um dos meus favoritos de Tarantino: não é tão frontal e visceral como Reservoir Dogs, não tão cool como Kill Bill, não tāo incisivo e vibrante quanto Inglorious Basterds! Mas Tarantino raramente acerta ao lado e The Hateful Eight é ainda um bom filme, irreverente e desafiante!


07 fevereiro 2016

Mad Max: Fury Road



Oh what a movie! What a lovely movie! 




George Miller swept us of our feet with a non-stop crazy beautiful ride of violence, shiny metal, action and feminism! Oh man, how can one not be overwhelmed by this intense and extravagant chase of freedom and redemption? Most notably, one that doesn´t even need dialogue, one that captivates you with mesmerizing and colourful visuals! How can one not be overwhelmed by the sunset fire of the desert or by the blueish moonlight of the wasteland? And how can one resist to a cinematography that acts like the driving force of the movie? 





The narrative is somehow simple and undoubtedly straightfoward but that is actually an enormous strenght! There are no preambles nor voiceover explanations: things just happen, the characters act upon them and you watch relentlessly! For instance, you don´t see the reality of the Wives. But you don´t need to...because you can imagine the horror and share their disgust and will to fight! And that's the kind of logic that makes "Mad Max: Fury Road" one of a kind! 





I have to say I didn´t imagine that I would have so much love and enthusiasm for this movie! I didn´t watch the trilogy (sure, crucify me) I was just familiar with the basic...But I just absolutely loved this over-the-top insane and inteligent post-apocalyptic opera, that perfectly put together a smashing entertainment with a simple yet incisive and well-played narrative of rebellion and fight for justice, equality and freedom! 


(Oh...and from a display of such irreverent and exaggerated characters, what movie can brag of still having a character so crazy and cool like The Doof Warrior?)





01 fevereiro 2016

Star Wars: Episode VII - The Force Awakens







E está aqui representado o meu conhecimento sobre Star Wars! Ok, sei um pouco mais, gostei bastante dos episódios IV a VI mas na verdade não sou uma fã no completo sentido da palavra. Posto isto, que posso eu dizer sobre o episódio VII?

Bem...que me trouxe à memória por bastas vezes o episódio IV, numa história e personagens quase daí decalcados! Seja o mistério sobre a origem dos protagonistas, a construção do vilão ou até mesma a chave para a destruição da nova "Estrela da Morte", tudo revisita o passado e nem sempre de forma positiva! É que apesar do ritmo vibrante e enérgico da maioria do filme (e aí JJ Abrams fez um bom trabalho), este regresso acaba por ser pouco surpreendente e entusiasmante! E não apenas por esta frágil emulação...as novas personagens são apenas uma colagem de estereótipos: a Finn e Rey não lhes é dado espaço para crescerem para além do superficial (embora se note o esforço de Daisy Ridley) e Poe então é completamente desperdiçado! E quanto a Kylo Ren? Seria sempre hercúleo suceder a um marco tão carismático como foi Darth Vader mas para mim falharam redondamente! Quase não se sentiu a aura de maldade e crueldade que lhe deviam ser natas, por isso foi uma desilusão...e uma desilusão em vários pontos chave da história!

Concluindo, o Episódio VII é divertido e um bom entretenimento mas não se aproximou da emoção dos seus antecessores (IV a VI, bem entendido)! Sendo este um regresso e uma reinvenção da saga, para mim ficou abaixo das expectativas!