25 março 2012

Fantas Expresso: 3 filmes, 1 viagem



Bellflower 




“Style over substance” não é necessariamente sinónimo de mau ou desinteressante. Contudo, Belleflower não me convenceu completamente. Começa em força, livre e provocador, mas depois perde-se na panóplia de fogo e violência com que desenvolve a sua premissa. No entanto, afirma-se como um projecto arrojado e enérgico, com uma magnética banda-sonora, e que não deixará ninguém indiferente. 



A Moral Conjugal 




Peculiar e pitoresca, “A Moral Conjugal” apenas peca pela artificialidade do seu início, de tom forçado e sério. Contudo, a partir do momento em que Catarina Wallenstein, José Wallenstein e São José Correia entram em cena, a narrativa torna-se fluida e fogosa, irremediavelmente trágico-cómica. 



This Must Be The Place 




Conduzidos pela homónima dos Talking Heads, seguimos Penn, assumidamente divertidíssimo (e, assim, magnífico) com a sua personagem, numa odisseia pelo interior norte-americano que habilmente nos deixa antever que o seu cerne não é afinal o destino, mas antes a viagem.


17 março 2012

Momentos (XX)



[Spoilers -  Drive]





It's exactly how it should be. Confident, he shields her. The world closes around them. Nothing more exists than him and her. Us. Now.

He kisses her gently, but passionately. With a promise in his lips and a goodbye in his eyes.

06 março 2012

Shame




No que se torna um homem quando os seus desejos o controlam? Quando a sua vida, de aparente e feliz liberdade, é afinal, supérflua e sem rumo? Um vazio de obsessão, ausente de emoções e realidade. 




Shame, a segunda longa-metragem de Steve McQueen e a sua segunda colaboração com Michael Fassbender, é um portentoso e sincero retrato de vício e solidão. De um modo quase claustrofóbico, McQueen filma cruamente a crescente degradação e desespero de Brandon (Fassbender), um homem corrompido pela luxúria. A cena da actuação de Sissy (Carey Mulligan) é assim de uma beleza e dor magistrais. Subtilmente reveladora. Tal como toda a cena do encontro e posterior sedução no quarto de hotel. A intimidade é uma (im)possibilidade temida e, por isso, recusada. 




De um homem encarcerado pelos seus ideais a um homem destruído por desejo sem satisfação nem prazer, de Hunger a Shame, Fassbender é novamente de uma entrega surpreendente e avassaladora. Magnificamente angustiante, ele compõe de forma assombrosa este homem à deriva, quebrado e consumido. Por sua vez, Mulligan assume com uma doçura e desequilíbrio comoventes o papel da conturbada irmã de Brandon. 

Encurralados pela intensa e desconfortável banda sonora, agredidos pelos rudes e sublimes planos, seduzidos e magoados pelo oco olhar de Brandon, embarcamos na sua espiral de solidão, raiva, culpa e auto-destruição. Porque esta não é uma história de redenção. Não. Antes um valoroso conto de sordidez e miséria. A vergonha nunca o abandona.




04 março 2012

Shame - Desejo e solidão


A propósito da estreia de "Shame" e antes de publicar a minha crítica, deixo um pequeno texto que escrevi inspirada pelo seu sublime trailer...


(Texto originalmente publicado a 11 de Dezembro de 2011, 
no blogue "Nunca Te Olharei Por Dentro")



Cerca-te uma respiração pesada. Prende-te na confusão dos teus actos. Corres. Queres libertar-te. Esforço em vão. Quase sufocas na claustrofobia do inspirar e expirar. Apercebes-te, tarde de mais, que permaneces na devassidão. Continuas a procurar o calor anónimo dos corpos enrolados em fugaz prazer. Ao teu lado, uma mulher levanta-se. O teu suor prolonga-se-lhe na curva do ombro nu. Sentes-te vazio de emoções. Estás vazio de ti. Já não és nada mais que o instrumento descontrolado do desejo. A seda amarrotada dos lençóis já não consegue esconder a vergonha.